terça-feira, 17 de novembro de 2015

A ilusão do Livre-Arbítrio


No estado de pecado, o homem não quer aquilo de que não dispõe em sua alma. Ou seja, não está no homem natural o querer agradar a Deus, mas apenas o detestá-lo porque a queda implantou um princípio de hostilidade na raça humana a ponto desta se tornar incapaz e indiferente a todo bem espiritual, sendo sempre inclinada a toda forma de mal (Jr 13. 23; Jo 6. 44, 65; Rm 9. 16). Ele perdeu a capacidade de viver em plena comunhão e obediência a Deus de maneira que sempre decide e se inclina ao pecado. Trata-se de uma incapacidade da liberdade que só pode ser revertida com a obra do Espírito. Por isso a Escritura descreve a natureza humana não regenerada como num estado de: cegueira e trevas, morte espiritual, serva do pecado, sujeita a Satanás, sendo que os homens; por isso, são filhos da desobediência e da ira, escravos do pecado, estando mortos em delitos e transgressões (Jo 8. 34; Rm 6. 16; 20; 2 Tm 2. 26; Mt 22. 33-36; Jo 8. 44; 1 Jo 3. 10; Cl 2. 13-15; Ef 2.1-2). Livre-arbítrio significa o poder de escolher ou rejeitar a oferta de salvação, mas qualquer ensino que coloca estas opções à escolha do homem, desconhece o estado de morte espiritual que o impede de enxergar o caminho da salvação. Freqüentemente se faz confusão entre livre-arbítrio e livre-agência.
No estado de santidade em que Adão e Eva foram criados, foi-lhes dado poder de escolha entre duas alternativas: Vida e Morte espirituais (segundo Agostinho, sem coação externa). A isto chamamos livre-arbítrio ou, (para usar uma expressão mais apropriada) vontade própria. Com a queda é o próprio Deus quem provê os meios para reconciliar seus eleitos com Ele mesmo, porque mesmo que o homem não tenha perdido a capacidade de fazer escolhas, a Bíblia informa que serão sempre escolhas erradas, ou seja, ele é sempre escravo de suas escolhas erradas (Is 59. 2; 2 Co 5. 18; Cl 1. 22). Seu Filho tomou forma humana para ser o sacrifício vivo pelo pecado trazendo purificação porque “sem derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9. 22). A este último ato chamamos pacto da graça. Se ainda estivéssemos sob a liberdade de escolher, então o mérito da escolha da salvação seria nosso e a morte de Cristo não teria qualquer eficácia e utilidade. E a pessoa que não escolhe a salvação é porque quer conscientemente ir para o inferno? Mas no pacto da graça, Cristo é o agente e o redentor de nossa salvação. O poder que o homem possui de gerar suas próprias ações responsáveis é chamado livre-agência. Significa que o homem é livre para querer o que deseja e deseja aquilo que quer. Esse poder não foi perdido com a queda, mas a verdadeira liberdade, sim. 
Eles decidem suas ações e se tornam responsáveis por elas, com base na consciência, inclinações naturais e pensamentos. No entanto, a ação nasce na vontade, e esta; por sua vez, está tão escravizada pelo pecado que o homem jamais se inclina para a salvação pelo uso de sua livre-agência pois ele “perdeu totalmente a capacidade da vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação”.

[Confissão de Fé de Westminster, (São Paulo-SP, Puritanos, 1999), p. 222.]

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